Escrevi neste espaço, na última semana, “OS VÍRUS, A CHINA E A PNEUMONIA”, algumas linhas sobre a pneumonia vírica e um novo tipo de vírus, um tipo de coronavírus. Como disse na altura, conhecem-se uma série de espécies deste vírus, mas apenas 6 eram capazes de infectar humanos. Com esta nova espécie, o 2019-nCoV, passaram a ser 7 essas espécies. Este 2019-nCoV é também chamado “Wuhan Coronavírus”, por ter aparecido num mercado de venda de peixe, aves e marisco vivo nessa cidade. O vírus terá passado de animal para animal e depois de animal para humano.

A transmissão pessoa-a-pessoa foi confirmada, mas são necessárias mais informações para melhor avaliar a extensão desse modo de transmissão. A fonte da infecção é ainda desconhecida e pode estar activa. O reservatório e a história natural da doença continuam em investigação.
Apesar da China ter adoptado medidas de contenção rigorosas, como se vê em todos os noticiários e como se lê em letras gordas em todos os jornais, é provável a propagação global do vírus e é provável a importação de casos na União Europeia (UE). No entanto, a probabilidade de transmissão da doença dentro da UE é baixa, desde que sejam cumpridas as práticas de prevenção e controlo de infeção adequadas.

No contexto actual, e segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), são considerados casos suspeitos todos os casos de doença respiratória aguda (febre, tosse, falta de ar, dor de garganta), desde que exista história de viagem a Wuhan (1) ou contacto próximo com alguém com infecção por 2019-nCoV confirmada ou provável (2) ou visita a Unidade de Saúde onde tenham sido reportados casos de infecção por 2019-nCoV associada a Cuidados de Saúde (3). Estes contactos devem ter acontecido nos 14 dias que antecederam a doença.
Após o primeiro Comité de Emergência convocado pelo Diretor-Geral da OMS, de acordo com o Regulamento Sanitário Internacional, a OMS relata que a transmissão de humano para humano está a ocorrer, mas sendo ainda muito cedo para declarar uma emergência de saúde pública de interesse internacional.

À data de hoje, 29 de Janeiro, estão confirmados 5.974 casos na China, sem contar Hong-Kong, Macau e Taiwan, com 132 mortes reportadas, uma taxa de mortalidade aproximada de 2%, muito inferior a outras epidemias de um passado recente.

A prevenção do contágio e da disseminação da infecção continuam a consistir numa série de medidas, que aqui enumerei na semana passada e que continuam válidas, nomeadamente evitar contacto próximo com pessoas que sofram de infeções respiratórias agudas; lavar frequentemente as mãos, especialmente após conctato direto com pessoas doentes; evitar o contacto com animais; adotar medidas de etiqueta respiratória: tapar o nariz e boca quando espirrar ou tossir (com lenço de papel ou com o braço, nunca com as mãos; deitar o lenço de papel no lixo); lavar as mãos sempre que se assoar, espirrar ou tossir; utilizar máscara cirúrgica.

O tipo de doença causado por estes vírus é muito variável, sendo que a maioria dos casos serão resfriados comuns e banais. Alguns casos, particularmente em idosos e pessoas debilitadas ou com doenças associadas, poderão evoluir para pneumonia e para um síndrome de dificuldade respiratória grave, que pode, inclusivamente, necessitar de indução de coma e de ventilação artificial.
Não existe vacina conhecida para este coronavírus, provavelmente irão existir novidades neste campo nas próximas semanas ou meses. O tratamento desta doença é inespecífico e passa por tratamento sintomático, uma boa hidratação oral e suporte das (eventuais) falências orgânicas.

Ou seja, a atitude deve continuar a ser de atenção e vigilância, adoptando as medidas de prevenção de contágio e de disseminação. A instalação de um clima de pânico, muitas vezes incentivado por notícias especulativas e sensacionalistas, não contribui para a racionalidade das acções e para um eficaz controlo da doença.