O tratamento cirúrgico da obesidade
é muito caro?

A análise imediata e superficial diria que sim. A complexidade técnica e o desenvolvimento tecnológico permitiram que a cirurgia da obesidade se tornasse num procedimento cirúrgico extraordinariamente seguro e eficaz. Ao mesmo tempo, os custos monetários associados a este procedimento não são desprezíveis. Apesar de variáveis, podem ascender a vários milhares de euros, por cirurgia.
A comparação entre um gasto imediato de vários milhares de euros, com o diminuto custo por unidade de várias dietas, tratamentos comportamentais ou farmacológicos, leva-nos a pensar que um gasto mais elevado, apesar de único, é mais dispendioso do que pequenos, embora múltiplos, custos iterativos.

De igual forma, a expectativa de resultados será também um fator a ter em conta na avaliação do custo de determinado tratamento. Se o custo do tratamento for baixo, mas com ele não obtivermos qualquer resultado clínico, o seu interesse é nulo. Se, por outro lado, um tratamento com um custo elevado proporcionar uma alteração significativa no curso de uma doença, a sua utilidade não é questionável.

A obesidade é a pandemia do século XXI, com custos económicos e sociais que começam a ser incomportáveis para qualquer sistema de saúde. Sendo a prevenção a única solução a nível populacional, existe atualmente um único tratamento com eficácia comprovada a longo prazo na obesidade mórbida. Esse tratamento é a cirurgia. E embora os custos individuais de cada cirurgia sejam elevados, a ausência de alternativas terapêuticas eficazes faz com que a cirurgia seja a única estratégia racional em casos de obesidade grave.

A maioria das sociedades ocidentais convencionou que estariam dispostas a “investir” uma determinada quantidade de dinheiro de forma a aumentar a sua qualidade de vida. Cada sociedade pode definir os seus limites, de acordo com o seu desenvolvimento humano e económico, mas na maioria das sociedades ocidentais considera-se aceitável o valor de 30.000€ a 50.000€ por cada ano de aumento da esperança de vida ajustada à qualidade (QALY). A avaliação desta relação entre o aumento da esperança e qualidade de vida e o “preço” das intervenções (médicas ou não) tem o nome de análise de custo benefício. Desta forma, ninguém questiona a utilização de um medicamento biológico de última geração, com o custo de 50.000€/ano, desde que isso possa prolongar a vida de um indivíduo, com qualidade, em 1 ano.

Contudo, no caso específico da cirurgia bariátrica, o foco não se coloca tanto em “quanto custa” um ano associado a qualidade de vida (QALYs), mas em quanto se pode poupar, ganhando qualidade de vida.
Todas as análises de custo-benefício da cirurgia bariátrica têm demonstrado a sua eficácia e justificação económica. Tanto mais que a maioria dos estudos conclui que a cirurgia da obesidade proporciona ganhos de saúde, bem como a poupança de recursos. Num estudo que realizei há alguns anos (disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23341033), foi possível concluir que os gastos com a cirurgia do bypass gástrico eram recuperados ao fim de 8 anos após a cirurgia. Ao longo da vida de cada indivíduo, a cirurgia, em comparação com outros tratamentos não cirúrgicos, estava associada a uma poupança média de 13.000€ em custos associados a cuidados de saúde. Mais importante ainda do que a poupança de recursos económicos é a conclusão de que se poderão ganhar anos de vida – 2 QALYs (Quality-adjusted life-years). 
Em avaliação de custo-eficácia, esta combinação de virtudes tem o nome de estratégia dominante. Ou seja, é a única estratégia racional, dado que associado a uma melhoria da qualidade de vida e da esperança de vida, vem uma diminuição dos gastos com saúde. Este tem sido o motivo pelo qual a cirurgia bariátrica tem sido suportada por praticamente todos os sistemas de saúde a nível mundial. Mais ainda, têm sido vários os defensores de que a cirurgia bariátrica é o tratamento médico com melhor relação custo-benefício em todo o universo de tratamentos disponíveis.

Uma análise científica e racional dos custos e benefícios associados à obesidade e ao seu tratamento, permite perceber que:
– a obesidade concorre para uma diminuição importante da qualidade de vida;
– a eficácia dos tratamentos nutricionais, farmacológicos e comportamentais em casos de obesidade mórbida é muito baixa;
– o somatório dos custos individuais de cada tratamento não cirúrgico, ao longo de vários anos, é maior do que o dos custos associados à cirurgia;
– a cirurgia bariátrica oferece um tratamento eficaz e duradouro no controlo da obesidade;
– o “investimento” realizado com os custos inerentes à cirurgia é recuperado após alguns anos e vem com “dividendos” associados, como sejam a melhoria da qualidade e/ou da esperança de vida.

Sendo investimento na cirurgia considerado elevado, o benefício é indiscutível. A cirurgia permite viver mais e melhor.

A cirurgia da obesidade é um investimento no seu futuro, na sua saúde, nas suas finanças e, acima de tudo, na sua qualidade de vida!

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