A estria vascular, localizada na parede lateral do canal coclear, segrega endolinfa rica em potássio, responsável pelo potencial endococlear (Offner et al., 1987). A disfunção desta estrutura, devida a lesão do epitélio e dos vasos, provoca hidropsia endolinfática e alterações da transdução das células ciliadas (Schuknecht and Gacek, 1993).
Ao nível coclear, também há alterações da condução das vibrações sonoras devidas à alteração das propriedades elásticas da membrana basilar, da articulação da platina do estribo com a janela vestibular (oval) e da membrana timpânica secundária (Schuknecht and Gacek, 1993).
Por outro lado, cada célula ciliada interna está conectada com núcleos cocleares do tronco cerebral através do neurónio auditivo primário. Estes neurónios também não têm capacidade regenerativa, pelo que a sua perda resulta na diminuição das aferências ao longo da via auditiva central (Johnsson and Hawkins, 1972).
Ao nível dos núcleos da via auditiva central, verifica-se a diminuição do número de neurónios, do seu tamanho e alterações neuroquímicas que, no seu conjunto, resultam na diminuição da capacidade do sistema nervoso central de processar a mensagem auditiva (Pichora-Fuller and Souza, 2003).
As doenças sistémicas que acompanham o envelhecimento como a arteriosclerose, a hipoxia, a diabetes, as alterações metabólicas renais e hepáticas têm influência negativa sobre as estruturas auditivas (Gates and Mills, 2005).
A base genética da “presbiacusia” é difícil de provar, pois as pessoas estão expostas a múltiplas outras agressões ao sistema auditivo durante a vida. No entanto, começa-se a reunir evidências que apontam para uma predisposição genética para a “presbiacusia” e a suscetibilidade para as agressões externas (Gates et al., 1999). Estas suscetibilidades parecem estar relacionadas com o DNA mitocondrial .
Apresentação clínica
Inicialmente, os sintomas de “presbiacusia” são discretos, aumentando progressivamente, mas de forma não linear e muito variável, à medida que a idade avança (Gates and Mills, 2005). A média da perda auditiva das pessoas que procuram ajuda é de 45 dB (Gates et al., 1990). Mais do que notarem surdez, estes pacientes começam por referir dificuldade em entender as conversas em ambiente ruidoso ou quando mais do que uma pessoa fala ao mesmo tempo (Humes, 1996; Gates et al., 2000). Esta dificuldade parece ser devida à perda de células ciliadas na espira basal da cóclea, responsável pela codificação das frequências agudas, importantes na discriminação das consoantes e do fim das palavras, interferindo na compreensão do discurso.
O aparecimento de um acufeno (zumbido) é frequente nestes doentes, sendo particularmente incómodo em ambiente silencioso (Moller, 1984; Gates and Mills, 2005).
O audiograma tonal mostra uma perda auditiva nas frequências agudas (4 e 8 kHz) que vai progredindo para as frequências médias e graves, à medida que a doença avança (Gates and Mills, 2005). (Fig.5)