Perturbações Bipolares

Serei bipolar?

De manhã acordo bem, agora estou irritado. Questões como esta são colocadas frequentemente na consulta de psiquiatria.
Todos temos a vivência de estarmos de bom e de mau humor de uma forma variável ao longo do dia, de acordo com circunstâncias internas e externas. Não seria muito saudável não termos estas variações de humor. No entanto, as alterações do humor que ocorrem nestas doenças são de tal modo marcantes que afetam os níveis de atividade e as capacidades da pessoa para lidar com as tarefas do dia a dia.
Uma coisa será, por exemplo, não saber o que vestir, outra é passar uma manhã em frente ao roupeiro, incapaz de escolher uma peça de roupa, ou junto do fogão, com incapacidade para fazer uma refeição. No caso da exaltação do humor ou euforia, passa-se para o lado oposto. Por exemplo, pode-se ficar entusiasmado para comprar uma bicicleta de montanha, mas outra coisa será comprar as bicicletas todas do stand e, sem qualquer experiência no ramo, pretender fazer um negócio milionário de bicicletas.

O que é a doença bipolar?

Passado que foi o dia mundial deste tipo de perturbações, no dia 30 de março, é sempre oportuno clarificar esta categoria de doenças. Elas estão classificadas no âmbito das perturbações do humor e do afeto e, atualmente (DSM V), no espectro das esquizofrenias, outras perturbações psicóticas e perturbações depressivas, dada a sintomatologia, história familiar e genética.
Na crise depressiva, o humor depressivo prolonga-se pela maior parte do dia, com sentimentos de vazio, lentificação psicomotora, desinteresse pelas atividades do quotidiano, perda de peso, insónia, fadiga, sensação de inutilidade e culpa excessiva e inapropriada, por vezes delirante, indecisão, incapacidade para pensar e se concentrar, com pensamentos recorrentes sobre a morte. Nas pessoas mais jovens, surge, em vez da insónia, a hipersónia (dormir de mais) e, por vezes, em vez da perda de peso, ganhos de peso. Estes sintomas persistem mais de duas semanas e prolongam-se, se não houver tratamento, por mais de seis meses.

O que é a mania e a hipomania?

Na mania ou na hipomania, há um humor eufórico e expansivo, por vezes, irritável, elevada auto estima e sentimentos de grandiosidade e grandiloquência, necessidade diminuída de sono. Regista-se também a tendência para a agitação, para ser mais falador do que o habitual, parece que os pensamentos se atropelam, por vezes, com fuga de ideias, elevada distração, sendo a atenção dirigida para estímulos irrelevantes. Verifica-se, ainda, o aumento da atividade, muitas vezes, de modo desajustado para objetivos sociais, de trabalho, escolares ou sexuais, assim como a propensão para o envolvimento excessivo em atividades agradáveis, com potencial desastroso (compras, investimentos financeiros, indiscrições sexuais). As diferenças entre a mania e hipomania tem que ver com o grau de gravidade dos sintomas; de um modo simplista, poderá dizer-se que numa mania o internamento é obrigatório, ao passo que na hipomania é possível tratar-se o doente em ambulatório.
A alternância de estados depressivos com estados maníacos é a caraterística mais significativa destas perturbações, podendo as pessoas oscilar entre ciclos mais ou menos graves de depressão e de humor exaltado (mania ou hipomania).

Perturbações bipolares mais comuns

Os doentes com perturbações bipolares apresentam, assim, estes dois tipos de situações de modo alternado, surgindo as crises, por vezes, com intervalos de meses ou de anos. Pode dizer-se que há vários tipos de bipolaridades, mas as mais comuns são a perturbação bipolar I, bipolar II e ciclotimia.
Os doentes com crises do tipo I apresentam predominantemente mania e quadros depressivos menos frequentes. Os bipolares II têm mais quadros depressivos e crises de hipomania, exaltação do humor menos grave do que na mania.
Se a depressão tem uma prevalência de 15-25%, as perturbações bipolares têm uma prevalência combinada entre 1,8 e 2,7%. As perturbações bipolares I tem início, em média, pelos 18 anos. As perturbações bipolares II têm um início habitualmente mais tardio, pela terceira década de vida.

Fatores e tratamentos

Os estudos genéticos apontam para um padrão de hereditariedade através de mecanismos complexos, não sendo de excluir fatores de natureza psicossocial. Nos estudos sobre famílias, verifica-se que nos familiares de primeiro grau dos bipolares estima-se em 10 vezes mais o risco de surgir a doença e em 15 vezes mais o risco de suicídio, relativamente à população em geral.
O tratamento destas perturbações está bem estabelecido e estruturado e é hoje considerado de sucesso. Os medicamentos antipsicóticos atípicos e os estabilizadores do humor, assim como a eletroconvulsivoterapia são ferramentas essenciais, havendo que considerar uma diversidade de intervenções psicoterapêuticas, das quais se salienta a terapia comportamental cognitiva.

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