O enfermeiro no centro de cardiologia de intervenção
Por Enf.º Pedro Mota
Enfermagem Casa de Saúde da Boavista
O diagnóstico e tratamento de patologias do foro cardíaco requer um conjunto complexo de profissionais e equipamentos.
A cardiologia de intervenção e a cirurgia cardíaca evoluíram nos últimos vinte anos, de modo extraordinário e alargaram o seu espetro de ação, quer no domínio do diagnóstico quer no domínio do tratamento, para patologias antes fora do seu alcance.
O vulgarmente chamado “laboratório de hemodinâmica”, uma denominação ainda inadequadamente em uso, transformou-se, nas instituições mais modernas e especializadas, numa unidade de diagnóstico e tratamento de enorme complexidade.
A Casa de Saúde da Boavista e a Unilabs acompanharam esse desenvolvimento e no Centro de Cardiologia de Intervenção da Boavista uma equipa multidisciplinar diagnostica e trata um conjunto de patologias que vão desde a doença coronária, causadora do enfarte agudo do miocárdio, a patologia estrutural cardíaca, como são as doenças das válvulas cardíacas por exemplo.
Os procedimentos são normalmente realizados através da cateterização de vasos sanguíneos da região do braço – a artéria radial, ou virilhas – a artéria femoral, com auxílio de equipamento e técnicas de imagem como a ecografia e a radiologia. Estas técnicas popularmente conhecidas como cateterismo cardíaco, na verdade constituem um número enorme e diverso de procedimentos com complexidades e objetivos muito diferentes.
No caso do cateterismo coronário, que esteve na génese de todo o progresso neste domínio, a sua finalidade não fica somente pelo diagnóstico de patologia cardíaca, como por exemplo, a obstrução das artérias coronárias. É possível, frequentemente, através desta abordagem, tratar estas artérias por com resultados semelhantes ao das cirurgias convencionais e com a vantagem de serem menos agressivos, exigirem menos tempo de internamento e permitirem uma recuperação mais rápida do paciente.
Outras patologias como por exemplo a estenose aórtica, aperto da válvula aórtica, podem também em circunstancias bem definidas, ser tratadas através da colocação de uma prótese valvular introduzida pela artéria femoral, um procedimento conhecido por TAVI, acrónimo de “Trans Aortic Valve Implant”.
Todos estes procedimentos, para além da estrutura física e equipamento, exigem uma equipa multidisciplinar com elevado nível de formação e desempenho. Estas equipas são constituídas por cardiologista, cirurgiões cardíacos, anestesistas, técnicos de diagnóstico e enfermeiros.
Competências do Enfermeiro
O enfermeiro desempenha um papel da maior relevância em todas as fases do processo. É ao enfermeiro que compete a assistência sistematizada ao paciente no pré, intra e pós-procedimento. Todo o percurso do paciente é cuidadosamente preparado e monitorizado de modo assegurar a segurança do doente. Esta competência é ainda mais relevante na abordagem ao paciente crítico e emergente, que constituem um número significativo e crescente dos doentes tratados neste contexto.
Abordagem Pré Procedimento
Ao enfermeiro compete a execução da anamnese e exame físico, a avaliação clínica e observação geral das condições do paciente bem como a preparação do paciente para o procedimento. Os momentos que antecedem os procedimentos são sempre acompanhados de ansiedade. A presença do enfermeiro e as orientações sobre o procedimento que fornece – educação em saúde – tem um efeito pedagógico e simultaneamente tranquilizador.
Abordagem Intra Procedimento
O teatro de operações de uma unidade como o CCI exige um planeamento cuidadoso. É à equipa de enfermagem que cabe a responsabilidade da preparação do material para intervenção e a verificação dos contínua do adequado funcionamento dos equipamentos.
A atenção sobre o doente é crítica para o sucesso dos procedimentos. Ao enfermeiro compete a análise do traçado eletrocardiográfico e suas alterações, a identificação de sinais ou sintomas sugestivos de complicações, a verificação dos parâmetros hemodinâmicos e o tratamento e vigilância do local dos cateterismos.
Abordagem Pós Procedimento
O fim do procedimento é normalmente um momento de menor tensão, ainda assim é também um momento onde a observação atenta do enfermeiro na retirada dos introdutores utilizados no procedimento, no tratamento da ferida, na avaliação das condições do local do exame e na identificação de sinais de complicações é da maior importância.
Em resumo podemos afirmar que a atividade clínica no contexto do CCI tem grande complexidade. O seu sucesso depende da eficácia de uma equipa multidisciplinar em que o enfermeiro é um elo indispensável na cadeia de segurança.