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LIVRO DE RECLAMAÇÕES ELETRÓNICO
Nº de Inscrição ERS 14044
ERS Número de Registo do Estabelecimento E106530
As estratégias poupadoras de sangue ou patient blood management consistem numa abordagem multidisciplinar baseada na evidência com o objectivo de racionalizar e minimizar a utilização de transfusões sanguíneas e outros hemoderivados na prática clínica.
Esta estratégia é particularmente importante em cirurgia cardíaca, uma vez que este tipo de procedimentos se associam a um aumento das necessidades transfusionais.(1) Sabe-se hoje que as transfusões sanguíneas, embora necessárias, comportam riscos acrescidos, como aumento da morbi-mortalidade, aumento do número de infeções e aumento dos custos no peri-operatório. (2)
Este programa compreende 3 pilares que são transversais ao pré-operatório (antes da cirurgia), intra-operatório (durante a cirurgia) e pós-operatório (após a cirurgia):
1 – Correção da anemia com medicação hematínica
2- Limitar as perdas sanguíneas
3- Tolerar valores mais baixos de hemoglobina: aumentar o limiar transfusional
Em cirurgia cardíaca, cerca de 20 a 45% dos doentes apresentam anemia, por múltiplas causas, antes da cirurgia. Desses, metade apresentam falta de ferro (ferropenia) e mesmo em doentes que não apresentam anemia, 20% apresenta deficiência absoluta em ferro. Apesar de começar a existir evidência que o tratamento iniciado imediatamente antes da cirurgia possa ser eficaz, este deve ser iniciado 2-3 semanas antes da cirurgia, permitindo uma otimização adequada mesmo em doentes prioritários.
Um estudo recente, mostrou inclusivamente que doentes com anemia ou com défice de ferro submetidos a cirurgia cardíaca, uma terapêutica pré-operatória na véspera da cirurgia com ferro intravenoso, eritropoietina subcutânea, vitamina B12 e ácido fólico reduz as necessidades transfusionais no perioperatório. (3)
Outro aspecto importante na diminuição das perdas sanguíneas é a gestão de medicação anticoagulante/anti-agregante do doente. Existem múltiplas recomendações de sociedades científicas nacionais e internacionais quanto à manutenção e/ou suspensão desta medicação no peri-operatório. Com base nestas recomendações, a gestão desta medicação cabe ao médico responsável (cirurgião, anestesista, cardiologista) Em nenhum momento, esta medicação deve ser suspensa sem o médico responsável ser consultado.
Na última década, verificou-se uma melhoria das técnicas cirúrgicas com recurso progressivo a técnicas minimamente invasivas, resultando numa diminuição da exposição cirúrgica e consequente diminuição das perdas sanguíneas.
A utilização de cirurgia off-pump, aqui na CSB, como técnica de eleição na cirurgia de revascularização coronária pela ausência de necessidade de circulação extra-corporal e pelo controlo efectivo da normotermia, permitem uma diminuição substancial das perdas hemáticas intra-operatórias. Nas situações em que existe necessidade de circulação extra-corporal (máquina coração-pulmão), como por exemplo, numa cirurgia de substituição valvular, o desenvolvimento de circuitos de circulação extra-corporal que necessitam de menor volume, permitem uma menor hemodiluição e, portanto, redução das necessidades transfusionais intra-operatórias.
A adopção de uma política intencionalmente restritiva no que respeita ao limiar transfusional, isto é, transfundir com valores de hemoglobina inferiores a 7 g/dl e em doentes de elevado risco menor que 8 g/dl é, à luz da evidência atual, uma prática segura e recomendada.
Outro componente importante deste programa na CSB é utilização de cell-saver. Este dispositivo permite a re-infusão de sangue que foi previamente aspirado do campo cirúrgico e, após ser “tratado”, volta a ser re-infundido no doente. Está demonstrado que a sua utilização reduz o numero de unidades de sangue transfundidas, reduz a taxa de infeção da ferida cirúrgica, diminui o número de dias de internamento hospitalar e diminui mortalidade perioperatória.(4)
Como uma terapêutica adjuvante, a utilização de ácido tranexâmico, um fármaco que estabiliza a formação do coágulo, permite uma coagulação mais eficaz sendo a sua utilização recomendada em cirurgias com risco hemorrágico acrescido. Existem inúmeros estudos que demonstram a sua eficácia no perioperatório sem nenhuma evidência de aumento de complicações tromboembólicas. (5)
As mesmas atitudes no pós-operatório, no que respeita à manutenção da temperatura do doente, administração de anti-fibrinolíticos como o ácido tranexâmico, vigilância de alterações da coagulação com testes viscoelásticos, política restritiva transfusional e manutenção da terapêutica com ferro constituem os pilares desta estratégia.
Em resumo, em cirurgia cardíaca a implementação destes programas reduz o número de hemoderivados utilizados, sangue, plaquetas oeplasma, com benefício claro para o doente.
Com a implementação deste programa, uma meta-análise recente mostrou uma redução de 39 % no número de transfusões, diminuição no número de dias de internamento hospitalar (0,45 dias), redução de 20 % no número de complicações major, redução de 25% de eventos trombo-embólicos, redução de 9% na taxa de infeções perioperatórias e redução de 11% na mortalidade operatória.
Para a efetiva utilização destas estratégias é essencial uma estreita colaboração entre os diferentes profissionais de saúde que acompanham o doente durante todo o período perioperatório.