Chamamos estrabismo ao desalinhamento dos eixos visuais. O desvio dos olhos pode ocorrer num eixo horizontal (convergente ou divergente), num eixo vertical (para cima ou para baixo), ou a única coisa que uma criança pode apresentar é um torcicolo. A posição da cabeça pode ser inclinada para um dos lados, queixo para baixo ou para cima e, às vezes, é tão subtil que nem os pais dão conta. Há ainda outros casos mais complexos.
Porquê estrabismo?
Existem alguns fatores de risco associados ao estrabismo, tais como: história familiar positiva (pai, mãe ou irmãos), prematuridade, baixo peso ao nascimento e síndromes genéticos. Quando estes fatores de risco estão presentes, as crianças devem ser avaliadas numa consulta de oftalmologia e, se possível, por um oftalmologista pediátrico.´
Todos os estrabismos são iguais?
O tipo mais comum é o estrabismo acomodativo. Este surge habitualmente entre os 2 e os 5 anos de idade e representa mais de metade dos casos de estrabismo. Resulta de um erro refrativo não compensado chamado hipermetropia e é particularmente importante porque este tipo de estrabismo pode ser prevenido, se a alta ametropia, o defeito visual, for diagnosticada oportunamente.
Alguns estrabismos podem surgir desde os primeiros meses de vida, como a endotropia congénita ou o estrabismo por algum problema visual. Geralmente, eles são facilmente diagnosticados pelo pediatra ou pelo médico assistente, pois são constantes e de grande ângulo.
Muito mais frequente do que o estrabismo é o chamado pseudo-estrabismo, que é uma causa de grande angústia dos pais. É muito comum ele surgir nas crianças com epicanto e com base larga do nariz. Tal como o nome indica, apesar de dar a falsa impressão de que há um desvio dos eixos visuais, os olhos estão perfeitamente alinhados. Esta falsa ideia acontece porque a parte nasal da esclera (parte branca dos olhos) fica menos visivel.
Durante os primeiros meses de vida, a visão binocular (a utilização dos dois olhos juntos pelo cérebro) está a ser desenvolvida e, por isso, é normal que até aos 6 meses, mas principalmente nos primeiros 3 meses de vida, a criança apresente, por momentos, alguns segundos, um desalinhamento dos eixos visuais, mas rapidamente os olhos voltam à sua posição normal.
Quais são as consequências do estrabismo?
Quando os eixos visuais estão desalinhados (quando há estrabismo), o cérebro forma duas imagens e vemos a dobrar (é a chamada diplopia). Nas crianças pequenas, o cérebro utiliza outro mecanismo e consegue apagar a imagem do olho desviado (mecanismo de supressão ocular). Se, por um lado, é um mecanismo adaptativo porque a diplopia é muito incómoda, por outro lado, se o olho desviado for sempre o mesmo, acaba por surgir a ambliopia (também designada por olho preguiçoso). Na ambliopia, apesar de o olho ser saudável, há uma baixa de visão por falta de estímulo cerebral. A ambliopia é reversível na maioria das crianças, se for tratada antes dos 5-6 anos de idade, mas quanto mais cedo for feito o diagnóstico mais curto será o tratamento e maior será a taxa de sucesso. Após os 7-8 anos de idade, é muito difícil tratar a ambliopia.
Como já foi dito anteriormente, muitos casos de estrabismo poderiam ser evitados se houvesse uma deteção precoce dos erros refrativos. Assim, atualmente, recomenda-se que todas as crianças sejam avalidas aos 2 anos, numa consulta de oftalmologia pediátrica, ou em algum rastreio visual infantil.
As consultas e os rastreios visuais, além de detetarem o estrabismo e a hipermetropia, também diagnosticam outros erros refrativos e outras patologias oftalmológicas.