Epidemiologia das Pneumonias

Pulmões: o que são e para que servem

Os pulmões são órgãos internos expostos a partículas do ambiente e aos micro-organismos presentes nas vias aéreas superiores que, por microaspiração, podem atingi-los. O trato respiratório inferior consegue manter-se praticamente estéril e desprovido de agentes patogénicos convencionais, graças aos seus mecanismos internos de defesa, contendo apenas algumas espécies bacterianas (o microbioma), idênticas às que se encontram no trato respiratório superior. As defesas do hospedeiro são inatas (inespecíficas) ou adquiridas (específicas) pelo contacto com as diversas estirpes de microorganismos ao longo da vida, estando gravadas na memória imunológica de cada indivíduo.

Pneumonias: gravidade e tipos

As Pneumonias são infeções do pulmão, têm uma frequência elevada e podem ser graves. Pelo seu caráter sazonal, adotam um padrão relacionado com o grau de atividade gripal e com a virulência da estirpe gripal. Por este motivo, a taxa de cobertura vacinal é de importância major na população a partir dos 65 anos, e Portugal apresenta, ainda, uma taxa de cobertura vacinal inferior à média dos países da OCDE. As pneumonias constituem a principal causa de mortalidade por doença respiratória em Portugal, colocando-nos como o país com a mais elevada taxa de mortalidade por pneumonias dos países da OCDE, e são também a causa mais frequente de internamento por doença respiratória (Tabela 1).

Há 4 grandes grupos de Pneumonias: (1) a do indivíduo previamente saudável, (2) a do indivíduo com defesas debilitadas, ou seja, imunocomprometido, (3) a adquirida na comunidade e (4) a adquirida em meio hospitalar; atualmente, fala-se de um novo grupo que está associado aos cuidados de saúde extra-hospitalar.

O desenvolvimento de uma pneumonia adquirida na comunidade (PAC), pertencente ao grupo 1, será o que mais importa tratar aqui.

Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC): causas, idade, estilo de vida e prevenção

A PAC pode surgir por defeito nas defesas do hospedeiro, por exposição a um microrganismo particularmente virulento ou pela exposição a um inóculo considerável . Estima-se que ocorra, aproximadamente, em16 a 23 casos, por 1 000 pessoas, por ano. O Streptococcus pneumoniae é a causa bacteriana mais comummente identificada em todo o mundo, mas outras bactérias e vírus são igualmente causas comuns de PAC.
A taxa de incidência e a mortalidade aumentam com a idade (Figura 1); na Europa, a mortalidade situa-se nos 9.1%, sendo baixa nos jovens, mas aumentando progressivamente com a idade.
Se a virulência microbiana é um fator importante, as condições prévias de saúde do hospedeiro determinam a predisposição para o desencadear da infeção, por levarem ao comprometimento das defesas pulmonares e do organismo em geral, criando, desta forma, um risco aumentado de PAC. Vejamos:
– Com a idade, há um aumento acentuado da incidência de pneumonia entre adultos, especialmente acima dos 65 anos.
– A pneumonia é mais prevalente nos portadores de doenças pulmonares crónicas, como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), as Bronquiectasias, a obstrução brônquica, devido a estenose, tumor ou corpo estranho ou o Cancro do Pulmão, sendo estas últimas situações avaliadas através do recurso à broncoscopia.
– O mesmo acontece se há aumento do risco de aspiração do conteúdo gástrico ou de secreções das vias aéreas superiores, consequente a perturbações do estado de consciência (acidente vascular cerebral, convulsão, anestesia, intoxicação por drogas ou álcool), a problemas de motilidade esofágica, ou a má higiene oral.
– As doenças crónicas ocasionam sempre algum grau de imunocomprometimento, facilitando o aparecimento de pneumonias: a Diabetes mellitus, a infecção pelo HIV, o estado pós transplante de órgãos sólidos ou de tecido hematopoiético, o uso de medicamentos imunossupressores (inibidores do fator de necrose tumoral alfa, quimioterapia, corticosteróides), as perturbações metabólicas como a desnutrição, uremia, hipoxemia ou acidose.
– São igualmente responsáveis certos estilos de vida e exposições ambientais, como a exposição ao fumo do tabaco, consumo de álcool ou opióides, inalações tóxicas ou coabitação em locais superlotados nas prisões, hospícios, lares de terceira idade.
– As infeções do trato respiratório por vírus, especialmente o da influenza, para além de poderem causar pneumonia vírica, predispõem os pacientes a pneumonias bacterianas graves.
A redução do risco de Pneumonia resume-se à adoção de um estilo de vida saudável, controlo de doenças crónicas e ao recurso à vacinação, sempre que esta está indicada.

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