AVC na criança

Sim, as crianças também podem ter um AVC.

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) está geralmente associado à população adulta, mas a verdade é que pode surgir em idades precoces, dos 0 aos 18 anos, podendo mesmo ocorrer in útero durante a gravidez (AVC in útero). É, no entanto, muito mais raro do que no adulto, sendo a incidências do  AVC perinatal ou neonatal (20 semanas de gestação a 28 dias de idade)  de 1 em 3500 nascimentos por ano e o AVC pediátrico (1 mês a 18 anos de idade)  de 0,6 a 13 por 100 000 crianças por ano, ocorrendo cerca de 50% no primeiro ano.

Quais são as causas mais frequentes do AVC na criança?

O AVC ocorre por interrupção do fluxo sanguíneo cerebral. As causas são distintas das do adulto, sendo as doenças cardíacas, infeciosas, vasculares (malformações congénitas dos vasos) e hematológicas (doenças da coagulação) as principais responsáveis. Em cerca de metade das crianças, há um ou múltiplos fatores de risco previamente conhecidos, daí a importância da prevenção.

Como se manifesta o AVC em idades precoces?

Pode afetar e manifestar-se em múltiplas áreas: alteração motora, sendo mais frequente a falta de força num dos lados do corpo (hemiparesia direita ou esquerda), alterações sensitivas, com falta de sensibilidade no lado afetado, alteração da fala e da linguagem e alteração da deglutição.
Nas crianças mais pequenas, os défices podem não ser evidentes na altura do evento, vão-se manifestando ao longo do crescimento, de acordo com as etapas do desenvolvimento psicomotor. Por exemplo, um importante sinal de alerta é a criança demonstrar preferência por uma das mãos antes dos 12 meses.

Qual é o tratamento?

O reconhecimento precoce desta entidade é fundamental para minimizar a gravidade e as sequelas que podem decorrer da lesão, mas muitas vezes há ainda atraso no diagnóstico, por se tratar de uma situação rara e ainda muito desconhecida nesta faixa etária. Assim, na fase aguda o tratamento é dirigido à estabilização clínica da criança e correção das complicações identificadas em cada caso. Logo que possível, na fase subaguda, é importante iniciar o processo de reabilitação/habilitação de forma a minimizar a incapacidade, promover a funcionalidade, a participação e melhorar a qualidade de vida daquela criança/adolescente: habilitar as competências ainda não adquiridas e reabilitar competências previamente adquiridas.

A intervenção deve ser precoce, aproveitando a grande plasticidade cerebral na infância, de modo a potenciar a recuperação da criança. Plasticidade cerebral é a capacidade do sistema nervoso de se adaptar e moldar ao longo do desenvolvimento neuronal e quando sujeito a novas experiências.

O processo de reabilitação deve ser individualizado, para além de precoce e flexível, sempre centrado na criança e na família, e efetuado por uma equipa multidisciplinar especializada em Reabilitação Pediátrica. Deve ainda ser adaptada ao longo do tempo, tendo em conta o crescimento e o desenvolvimento da criança. A intervenção é baseada nos princípios de aprendizagem motora, pela repetição, relevância funcional, com tarefa específica e objetivo definido, de acordo com a tolerância e enquanto se verificarem ganhos.

Começam a surgir novas formas de terapias em complemento das mais clássicas:  terapia de restrição de movimento, terapia bimanual, terapia em espelho, terapia robótica, uso de realidade virtual e estimulação cerebral não invasiva.
O prognóstico é variável. Os estudos mais recentes indicam que 55% das crianças desenvolvem défice sensitivo, motor, cognitivo, convulsões ou atraso do desenvolvimento, 15% morrem e 30% permanecem neurologicamente normais.

Aproveitando a elevada plasticidade cerebral na infância, a reabilitação deve ser iniciada precocemente, de modo a melhorar a aquisição de competências que possam ter sido perdidas  e promover o desenvolvimento psicomotor, a participação e a qualidade de vida destas crianças.

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