Tenho uma hérnia inguinal
Posso ser operado por laparoscopia?
Todos os anos, mais de 20 milhões de pessoas são submetidas a cirurgia para correção de hérnia inguinal em todo o Mundo. Ao longo da vida de um indivíduo, o risco de aparecimento de uma hérnia é de 27-43% no sexo masculino e de 3-6% no sexo feminino.
Fatores de risco
São fatores de risco para o desenvolvimento de hérnia inguinal, a história familiar de hérnia, história prévia de hérnia contralateral (no lado oposto), sexo masculino (8 vezes superior em comparação com o sexo feminino), idade (pico de incidência aos 5 anos, no caso das hérnias indiretas e aos 70-80 anos, no caso das hérnias diretas), alterações no metabolismo do colagénio, história de cirurgia à próstata (prostatectomia) prévia e índice de massa corporal baixo (baixo peso).
Diagnóstico
O diagnóstico de hérnia inguinal é feito, na maioria das vezes, pelo exame clínico (dor e tumefação na virilha), no entanto algumas vezes são necessários exames (nomeadamente a ecografia) para confirmar o diagnóstico. Na presença do diagnóstico de hérnia inguinal, é boa prática o despiste da presença de hérnia contralateral, quer pelo exame físico, quer pelos exames de imagem caso estes sejam realizados para confirmar o diagnóstico.
Tratamento
As hérnias inguinais são quase sempre sintomáticas e devem tratadas cirurgicamente. A pequena minoria das hérnias que são assintomáticas ou as hérnias pouco sintomáticas no sexo masculino podem ser tratadas conservadoramente, devido ao baixo risco de desenvolvimento de complicações da hérnia (encarceramento e/ou estrangulamento, ou seja, a impossibilidade de reduzir a hérnia e o seu conteúdo ficar em sofrimento). No entanto, ao longo do tempo, a grande maioria dos pacientes com hérnia (mesmo que esta seja inicialmente assintomática) vão necessitar de tratamento cirúrgico. Assim, os benefícios (elevada taxa de sucesso, evitar o desenvolvimento de complicações da hérnia com necessidade de cirurgia de urgência, que apresenta elevada taxa de complicações – por ex. necessidade de ressecção de intestino) e os riscos da cirurgia (baixa taxa de complicações no pós-operatório, baixa taxa de recorrência/recidiva – ou seja, o reaparecimento da hérnia) devem ser discutidos e ponderados com o doente, favorecendo claramente o tratamento cirúrgico das hérnias inguinais.
A cirurgia
A cirurgia da hérnia inguinal consiste na abordagem da região inguinal com a redução do saco herniário e do seu conteúdo, e a reposição da anatomia normal, na quase totalidade dos casos, com a utilização de uma prótese (rede), que permite uma correção da hérnia livre de tensão (principal causa de recidiva das hérnias).
A abordagem laparoscópica na cirurgia da hérnia inguinal permite uma recuperação mais rápida, menos dor no pós-operatório, um menor risco de dor crónica, resultados estéticos melhores e é uma técnica com um custo-benefício comprovado. A cirurgia laparoscópica (técnica TAPP – TransAbdominal Pre‐Peritoneal) permite a identificação da anatomia e do conteúdo da hérnia (habitualmente intestino) de uma forma mais fácil e segura. Esta abordagem permite ainda o despiste de hérnia inguinal contralateral oculta (ou seja, assintomática e não identificável ao exame clínico). Da mesma forma, particularmente no caso do sexo feminino, a laparoscopia permite também o despiste de hérnia femoral (mais frequente nas mulheres e com um risco superior de complicações, particularmente o encarceramento e o estrangulamento da hérnia), que se pode associar à hérnia inguinal em cerca de 10-15% dos casos (até 40% das recidivas no sexo feminino devem-se a hérnias femorais, que poderão não ter sido diagnosticadas na cirurgia inicial da hérnia inguinal). A abordagem laparoscópica associa-se também a um menor risco de dor crónica após a cirurgia, uma vez que permite a identificação e preservação dos nervos, que cuja a lesão causa esta complicação. Nos casos de recidiva de uma hérnia que foi corrigida inicialmente por via aberta (técnica clássica), a cirurgia laparoscópica está indicada na abordagem da recorrência. Por outro lado, nos casos de hérnia inguinal bilateral (presença de hérnia em ambos os lados), a cirurgia laparoscópica está recomendada face à via aberta, pois as mesmas incisões (3 pequenas incisões com menos de 1 cm) permitem corrigir as duas hérnias ao mesmo tempo. Deste modo, a abordagem laparoscópica das hérnias inguinais bilaterais parece associar-se a uma menor taxa de infeção da ferida operatória, em comparação com a cirurgia aberta.
Assim, a cirurgia laparoscópica no tratamento da hérnia inguinal parece oferecer diversas vantagens relativamente à técnica clássica. No entanto, em casos particulares, nomeadamente nos pacientes com cirurgia ou radioterapia pélvica prévia e nos doentes com diálise peritoneal, a cirurgia da hérnia por via aberta deve ser a técnica preferida.
Em suma, a cirurgia laparoscópica permite uma melhor abordagem em praticamente todos os tipos de hérnia da região inguino-crural (virilha), nomeadamente na hérnia femoral concomitante, na hérnia contralateral oculta, na hérnia bilateral e na recidiva da hérnia inguinal.
A cirurgia laparoscópica da hérnia inguinal é segura, eficaz e permite uma recuperação rápida (por norma, os pacientes podem retomar a atividade normal no espaço de 3 a 5 dias após a cirurgia, se se sentirem confortáveis).
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