Tenho Síndrome Ovário Poliquístico, e agora?

7 verdades que devo saber!

A síndrome do ovário poliquístico (SOP) é, atualmente, das patologias ginecológicas benignas mais comuns na mulher em idade reprodutiva (prevalência 6-21%), prevendo-se que a sua frequência aumente, face à epidemia da obesidade, entre as adolescentes nos países desenvolvidos.
Apesar de se tratar de um distúrbio endócrino, tem muito impacto, ao nível físico e psicológico da mulher, sendo das principais causas de marcação de consultas (cerca de 10% são diagnosticados em consulta de ginecologia).

1 – Definição

Trata-se de uma síndrome poligénica, que poderá ser influenciada por factores ambientais e/ou genéticos, cujo início ocorre durante ou imediatamente após a menarca.
Esta doença carateriza-se pela presença de irregularidades menstruais, hiperandroginismo e/ou ovários poliquísticos (volume ovárico ≥10cm3 e/ou ≥ 12 folículos em pelo menos 1 ovário).
Os sinais e sintomas são heterogéneos, mas existem aspetos muito sugestivos: anovulação persistente (infertilidade oligo-anovulatória), excesso de peso/obesidade, hirsutismo, hiperinsulinémia e, raramente, sinais de virilidade.

2 – Sintomatologia

A queixa mais frequente que motiva a vinda de uma adolescente a uma consulta de ginecologia é a puberdade precoce.
As alterações do ciclo menstrual podem expressar-se sob a forma de oligomenorreia (ciclos de 36-90 dias) ou amenorreia e, em determinadas ocasiões, pode causar metrorragias persistentes que podem provocar anemia.
Outro sinal frequente é o excesso de peso e a obesidade, o que agrava as alterações reprodutivas (infertilidade) e metabólicas.
As manifestações cutâneas do hiperandrogenismo incluem o hirsutismo, acne, acantosis nigricans e a alopecia androgénica. Estes efeitos dermatológicos, assim como a obesidade, podem ter implicações negativas na auto-imagem das mulheres, com consequências emocionais e psicológicas significativas, como ansiedade e depressão. Por outro lado, estas mulheres obesas têm maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares.
Outras caraterísticas da SOP são a insulinorresistência, hiperinsulinémia e maior risco de desenvolver cancro do endométrio.
É importante recordar que esta patologia é uma síndrome e a apresentação clínica é variável.

3 – Complicações Obstétricas e Ginecológicas

Nas mulheres portadoras do SOP, pode haver maior incidência de abortos espontâneos e complicações durante a gravidez, tais como diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, parto pré-termo, macrossomia fetal e morte fetal “in útero”.
Pode, ainda, ocorrer com maior frequência a hiperplasia do endométrio, que está relacionada com a estimulação estrogénica, a obesidade e a diabetes tipo 2 na SOP.
A alteração do endométrio pode apresentar lesões bem diferenciadas. A ocorrência de cancro do endométrio é subjacente às alterações metabólicas e a prevenção desta neoplasia constitui um objetivo no tratamento da SOP.
O hiperestrogenismo da SOP pode também aumentar o risco de cancro da mama e dos ovários.

4 – Outras complicações associadas

Algumas mulheres com SOP desenvolvem complicações cardiovasculares, como hipertensão arterial, seja durante a sua idade fértil, seja na menopausa. Na maioria dos casos, observa-se menos distensibilidade vascular e maior predisposição para desenvolver tromboses. A probabilidade de surgir enfarte do miocárdio aumenta para sete vezes.
O hiperandrogenismo, a insulinorresistência, a dislipidemia, a obesidade e a disfunção ovulatória aumentam o risco de cardiopatias.
Na SOP, constata-se também maior risco de apneia do sono.
A deteção e o tratamento precoce desta síndrome na adolescência podem retardar e/ou prevenir complicações subjacentes, as quais surgem em idade mais avançada.

5 – Diagnóstico

Os principais critérios para diagnósticos, baseados no consenso modificado do National Institute of Health and Child Health and Human Development, incluem a anovulação crónica, o hiperandrogenismo e respetivos sinais clínicos, assim como a exclusão de outras etiologias.
Os critérios minor correspondem à insulinorresistência, ao surgimento de hirsutismo e obesidade na perimenarca, o aumento da relação LH/FSH e a anovulação intermitente, associada com hiperandrogenismo.
Os critérios de Rotterdam, reunidos em consenso pela European Society of Human Reproduction and Embriology/American Society of Reproductive Medicine, definem a SOP na presença de, pelo menos, dois dos seguintes critérios: sinais clínicos ou bioquímicos de hiperandroginismo, oligo-anovulação/anovulação e ovário poliquístico.

6 – Diagnósticos Diferenciais

A SOP é um diagnóstico de exclusão. Na história clínica, deve-se avaliar a possibilidade de outras alterações que possuem as mesmas manifestações clínicas, mas com outros sinais.
Entre as causas de anovulação durante a idade fértil da mulher, incluem-se insuficiência ovárica precoce, emagrecimento repentino, exercício físico em excesso, obesidade, suspensão da toma de anticoncetivos hormonais, adenoma hipofisário, com níveis elevados de prolactina, alterações hipogonadotróficas ou hipergonadotróficas, hiperprolactinemia, hipertiroidismo e hipotiroidismo.
O hiperandrogenismo pode ser causado por hiperplasia suprarrenal congénita, com início na vida adulta, síndrome de Cushing e neoplasias virilizantes ováricas ou suprarrenais.

7 – Tratamento

O tratamento da SOP depende da gravidade dos sintomas e também dos objetivos da mulher. Neste sentido, existem casos que necessitam da utilização de contracetivos hormonais, outros para indução da ovulação e ainda casos para o controlo do hirsutismo.
As modificações do estilo de vida são fundamentais para o tratamento da síndrome em mulheres com excesso de peso. Nestes casos, o emagrecimento relaciona-se com melhorias no metabolismo e na função ovulatória, assim como na diminuição dos níveis dos androgénios.
O tratamento da insulinorresistência pode atenuar as alterações metabólicas do SOP. Recomenda-se também instruir a doente sobre as consequências da síndrome e ter em conta os fatores psicossociais que permitem auxílio na conduta do estilo de vida saudável.
A infertilidade deve ser tratada de forma multidisciplinar, com maior ênfase para o foro endócrino e ginecológico. A obesidade é um fator que pode aumentar a interferência na fertilidade, diminuindo a eficácia do tratamento e aumentando o risco de abortos espontâneos, devendo incentivar-se a normalização do peso corporal antes da gravidez. Além disso, a obesidade aumenta os riscos maternos e fetais durante a gestação. Antigamente, a cirurgia constituía uma opção no tratamento da infertilidade associada à SOP, mas, atualmente, a intervenção cirúrgica só tem indicação após falência do tratamento médico. As técnicas de procriação medicamente assistida podem ser utilizadas. Recomenda-se a suplementação pré-natal de folatos, redução dos hábitos tabágicos e a prática regular de exercício físico.

Em conclusão

Há que ter sempre presente que a SOP não é apenas uma patologia do ovário e do aparelho reprodutor feminino, mas, sim, uma doença sistémica em que só a colaboração de uma equipa multidisciplinar contribuirá para o completo êxito do tratamento.

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