Síndrome Pós-COVID

Quando a pandemia por COVID-19 teve início, as primeiras descrições da sintomatologia debruçavam-se sobre os doentes agudos, com formas mais ou menos graves da doença, mas com necessidade de internamento. À medida que o tempo foi avançando, informação sobre o desenvolvimento e características dos indivíduos com doença ligeira foi surgindo, bem como a ocorrência frequente de doentes assintomáticos, portadores do vírus.

Ultimamente, os dados disponíveis e a investigação abordam a percentagem de doentes que mantêm sintomas relacionados com o COVID-19, que se prolongam após a fase aguda da doença. Esta nova entidade tem sido designada por síndrome pós-COVID ou terminologia similar. Sabe-se que estes sintomas persistentes podem aparecer em indivíduos que sofreram doença ligeira, moderada ou grave. Desconhece-se a incidência dos mesmos, bem como a etiologia, história natural, evolução e tratamento, embora comecem a aparecer, na literatura científica, uma série de estudos que abordam estes assuntos do síndrome pós-COVID.

Num estudo de larga escala, que incluiu 1733 doentes que sofreram infecção pelo SARS-Cov2 e que foram seguidos, em média, cerca de 6 meses, pelo menos 76% destes doentes apresentavam sintomas, que incluíam astenia/dispneia de esforço ou fraqueza muscular (63%), alterações do sono (26%), queda do cabelo (22%), alterações do olfacto e do paladar (11 e 9%) e alterações da motilidade (7%). Ansiedade e depressão também se incluíam nas alterações permanentes após a doença COVID-19.

Muitos outros estudos têm sido publicados, com tempos variáveis após os sintomas iniciais. É frequente o aparecimento de sintomas persistentes, sendo constantes a fadiga, a dispneia e a instabilidade emocional, nos diferentes estudos. Curiosamente, muitos destes doentes com sintomas respiratórios predominantes, apresentam exames de função (espirometria e outros) e de imagem (tomografia) completamente normais. Outras situações têm sido descritas, com maior ou menor gravidade. A nível do aparelho respiratório tem-se observado nalguns doentes o aparecimento de uma pneumonia organizativa criptogénica, uma doença inflamatória do interstício pulmonar, de causa desconhecida, e que se trata com corticoterapia de longa duração.

Com o reconhecimento do síndrome pós-COVID como uma nova entidade patológica, faz todo o sentido a existência de uma consulta dirigida a avaliar, orientar e monitorizar esta doença. A Pneumologia foi entre nós a especialidade escolhida para coordenar esta avaliação, que se pretende multidisciplinar e orientada em função dos sintomas do doente. As queixas destes doentes não se resumem ao aparelho respiratório, pelo que é necessário o apoio e intervenção de muitas outras áreas de especialidade, incluindo Cardiologia, Neurologia, Medicina Interna, Otorrinolaringologia, Dermatologia, Fisiatria e todas as outras que se justifiquem em função das queixas do doente e dos achados iniciais.

A consulta pós-COVID pretende fazer uma avaliação inicial do estado de saúde e que inclui sempre um estudo funcional respiratório e uma avaliação de imagem, tomográfica, do aparelho respiratório. Outros exames orientados pelos sintomas serão solicitados, com a respetiva avaliação por um perito da área em questão.

Apesar do síndrome pós-COVID ser uma entidade nova, ainda com um grande componente etiológico e evolutivo desconhecido, existem desde já uma série de atitudes terapêuticas, farmacológicas ou outras, como a reabilitação motora e a reabilitação respiratória, que poderão estar recomendadas e melhorar o prognóstico e a qualidade de vida destes doentes.

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