PREVENÇÃO DO AVC.
Quando a medicação não é suficiente.

Encerramento percutâneo do apêndice auricular esquerdo
(Parte I)

O acidente vascular cerebral (AVC) é uma doença muito frequente em Portugal: estima-se que todos os anos aconteçam cerca de 25000 novos casos, sendo uma das principais causas de morte e incapacidade permanente no nosso país.

O AVC isquémico é provocado por uma obstrução súbita de uma artéria do cérebro que, em poucas horas, se não for resolvida, determina a morte das células cerebrais; é o tipo de AVC mais frequente, atingindo cerca de 75% dos casos.

Em muitos casos, a origem do AVC isquémico é um problema cardíaco: é o caso, por exemplo, de uma arritmia muito comum, a fibrilação auricular.

Esta arritmia, relacionada com múltiplas condições como a hipertensão, a diabetes, problemas valvulares ou coronários (enfarte do miocárdio, angina de peito), provoca uma alteração no funcionamento das aurículas (as duas cavidades mais posteriores do coração) que perdem a normal função contrátil. A consequência é que o sangue fica mais “parado” e mais suscetível à formação de coágulos que, ao soltarem-se, podem obstruir artérias do cérebro, provocando um AVC.
Estima-se que a grande maioria dos coágulos que se formam no coração de um doente com fibrilação auricular tenham origem num pequeno recesso da aurícula esquerda, o apêndice auricular (imagem n. 1)

O tratamento recomendado para a prevenção do AVC em doentes de risco com fibrilação auricular passa pela toma de fármacos anticoagulantes, ou seja, medicamentos que tornam o sangue mais “fino”, impedindo a formação de coágulos.
Em alguns casos, no entanto, a toma destes medicamentos não é indicada porque pode causar hemorragias importantes.
Estes doentes de alto risco – para formação de coágulos, mas também para desenvolvimentos de hemorragias graves – representam um desafio clínico significativo.

Nos últimos anos, foi desenvolvida uma técnica que pode representar uma válida alternativa neste contexto: o encerramento percutâneo do apêndice auricular esquerdo.
É um procedimento que permite, introduzindo um cateter através da virilha, implantar um dispositivo que consegue ocluir o apêndice auricular esquerdo, excluindo-o, assim, da circulação.
O doente candidato ao procedimento realiza um estudo prévio com ecocardiograma transesofágico e angio-TAC cardíaco, com vista a caraterizar, com precisão, a dimensão e a forma do apêndice auricular esquerdo, permitindo, assim, a escolha do dispositivo mais adequado e do seu tamanho. (imagem n.2)

O procedimento, realizado normalmente sob anestesia geral, é guiado por ecografia e angiografia. Assim, é possível proceder com grande precisão e segurança à punção do septo inter-auricular, à introdução do dispositivo no apêndice auricular esquerdo, à avaliação da sua estabilidade e à verificação da selagem do orifício.
Normalmente, o doente tem alta 24 horas depois, tendo sido realizada uma ecografia de controlo.

Este procedimento foi objeto de avaliação em vários estudos randomizados (como o PROTECT-AF e o PREVAIL) e em múltiplos registos que incluíram várias centenas de doentes, nos quais foi possível verificar que o tratamento confere uma proteção do AVC comparável à do tratamento farmacológico e que a taxa de complicações, como o desenvolvimento de derrame pericárdico ou embolização do dispositivo, é muito baixa.

Em conclusão, pode-se afirmar que, para doentes com fibrilação auricular e elevado risco de formação de coágulos, mas que não podem tomar medicação anticoagulante, o encerramento percutâneo do apêndice auricular esquerdo representa hoje uma alternativa terapêutica segura e eficaz.

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