O que é a Pericardite?
O termo pericardite entrou recentemente no léxico comum, pela sua associação à pandemia COVID-19. A pericardite tem múltiplas etiologias (causas) e os vírus sempre foram uma das mais frequentes; por isso, não é estranha a sua relação com o SARS-CoV-2.
O que é o pericárdio?
O pericárdio é uma membrana fibrosa que recobre o coração. De facto, é uma dupla membrana, a visceral, que recobre e adere ao miocárdio (o músculo cardíaco), e a parietal, que funciona como um saco onde se encontra o coração. Entre estas duas camadas, existe normalmente uma pequena quantidade de líquido que funciona como um lubrificante e reduz o atrito, durante os batimentos cardíacos. É importante referir dois dados relevantes da anatomia do pericárdio: a membrana parietal (o saco) é muito fibrosa e pouco distensível e ambas as camadas são extensamente enervadas. Mais à frente, vamos perceber a relevância destes factos.
Pericardite Aguda e Pericardite Crónica
O termo pericardite designa uma inflamação do pericárdio. O sufixo “ite” refere-se, em geral, a inflamação (apendicite é a inflamação do apêndice e amigdalite a infeção das amígdalas). As pericardites podem dividir-se em pericardites agudas (quando de aparecimento súbito) e crónicas (quando a sua duração se estende por mais de 6 meses). Esta classificação é bastante simplista e existem zonas cinzentas (daí a existência de pericardites subagudas. Para efeitos didáticos, vamos aceitar a dicotomia aguda versus crónica.
Pericardite Aguda
A pericardite aguda cursa, geralmente, com sintomas. A dor torácica é um dos mais frequentes, dada, como referido atrás, a forte enervação do pericárdio. Outro sintoma habitual é a dispneia (sensação de falta de ar). Podem também ocorrer sintomas relacionados com hipotensão (tensão arterial muito baixa).
A dor tem, habitualmente, como caraterísticas ser localizada na região anterior do peito, ser precordial ou subesternal, variar na intensidade, leve ou grave, e poder irradiar para o pescoço e ombros. Ao contrário da dor torácica do enfarte do miocárdio, a dor decorrente da pericardite, em geral, agrava-se com os movimentos, a tosse e a respiração. Pode haver tosse não produtiva, é comum a existência de febre, calafrios e astenia.
A pericardite aguda é acompanhada, muitas vezes, de derrame pericárdico (acumulação de líquido entre os folhetos pericárdicos. Como referido antes, o pericárdio parietal é pouco expansível e pequenas quantidades de líquido podem provocar compressão do coração, daí resultando a também já citada hipotensão.
A pericardite é, frequentemente, secundária a outra doença e ocorre em resultado de infeção (mais habitualmente vírica), doença, ou inflamatória ou autoimune, insuficiência renal, traumatismo, enfarte do miocárdio, neoplasias (sobretudo mama e pulmão) e radioterapia. Com frequência, a causa não pode ser identificada e é denominada pericardite idiopática (muitos desses casos são, provavelmente, virais).
Pericardite Crónica
A pericardite crónica pode ocorrer após pericardite aguda. No passado, a tuberculose era a causa mais frequente de pericardite crónica, sobretudo na sua apresentação de pericardite constritiva. No entanto, independentemente da etiologia, qualquer pericardite aguda pode evoluir para a cronicidade. Alguns casos ocorrem sem pericardite aguda. A pericardite crónica com derrame pericárdico extenso é mais comummente causada por tumores metastáticos, como foi dito antes, frequentemente por neoplasia do pulmão, mama, mas também por sarcomas, melanomas ou leucemias e linfomas. A pericardite constritiva resulta da fibrose do pericárdio e da aderência dos folhetos pericárdicos visceral e parietal, resultando numa “carapaça” que restringe a excursão do coração, durante a sua contração e relaxamento. O pericárdio fibrótico, geralmente, contém depósitos de cálcio. A pericardite constritiva crónica é, hoje, muito menos comum do que no passado.
Diagnóstico
Apesar dos desenvolvimentos tecnológicos, o diagnóstico das pericardites continua a ser baseado na suspeita clínica e no exame físico. A integração dos sintomas, colhidos numa boa história clínica, e os achados encontrados no exame físico, é sempre o passo fundamental para o diagnóstico. O estudo analítico, o eletrocardiograma, o ecocardiograma, a tomografia axial computorizada e a ressonância magnética cardíaca permitem, na maioria dos casos, a confirmação ou exclusão do diagnóstico.
Tratamento
Frequentemente, a resolução da patologia de base resulta na cura da pericardite. Os anti-inflamatórios não esteroides e os corticoides são frequentemente usados no controle da inflamação e dos sintomas. Em casos severos de derrame pericárdico extenso, pode ser necessário drenar o derrame, através de uma pericardiocente (colocação de um pequeno dreno no saco pericárdico para esvaziar o líquido).
Nas pericardites constritivas, a cirurgia cardíaca pode ter de intervir para remover o pericárdio espessado, pericardiectomia, e permitir o movimento livre de contração/relaxamento cardíaco.
Conclusão
A pericardite é uma patologia com um largo espectro de apresentação. Na sua apresentação aguda, pode ter como causa uma infeção vírica. Com frequência, a causa é idiopática.
O diagnóstico deve ser feito por um médico especialista, com base na história clínica, exame físico e complementado com estudos de imagem.
O tratamento da pericardite aguda é, geralmente, o tratamento da doença causal e o controle sintomático da dor e da inflamação. O prognóstico é também, muitas vezes, dependente do prognóstico da patologia de base.
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