Morder: e se no lugar da melancia estiver uma criança?

Os bebés e crianças pequenas fazem as coisas mais adoráveis: riem perdidamente, acarinham, dão abraços enormes, beijinhos babados e, às vezes, mordem!
Nenhum pai gosta de saber que o filho foi mordido, ou mordeu outra criança, como acontece no infantário, em parques infantis ou em locais de convívio. Mesmo para educadores experientes esta situação é desagradável. Os profissionais são frequentemente “culpados” por não supervisionarem corretamente as crianças. As mordeduras acontecem muito rapidamente, de forma totalmente imprevista, e não são necessariamente sinal de descuido ou de má vigilância.

Por que razão mordem as crianças?

Morder é um comportamento frequente, sobretudo, entre o ano e meio e os 3 anos. Infelizmente, não há uma solução mágica para o seu controle e, por vezes, torna-se um hábito.
Nestas idades é comum a criança explorar o mundo através da boca. Todos sabemos como os bebés gostam de levar objetos à boca. Morder faz parte da descoberta. Ainda com uma capacidade limitada de compreender o efeito dos seus atos nos outros, geralmente não percebem que morder dói.
As crianças são imitadoras por excelência, e a imitação é um dos pilares do desenvolvimento infantil. Se há uma criança por perto que morde, rapidamente outras passarão a fazê-lo. Brincar a morder e morder a brincar, frequente entre família, pode condicionar este comportamento entre pares. Aos olhos dos mais pequenos, beijar e morder podem ser muito semelhantes e um pode rapidamente transformar-se no outro, sem qualquer intenção de magoar.
O cansaço, a insegurança, a frustração, a ansiedade podem predispor a este comportamento. Por vezes, as crianças mordem propositadamente. Em casos raros, morder pode ser um alerta para um comportamento doente, com necessidade de avaliação e de orientação profissional.
É fundamental conhecer a causa do comportamento quando queremos evitá-lo.

A maioria das mordeduras infantis são inofensivas

Habitualmente, as mordidelas feitas por crianças não quebram a barreira cutânea, não sangram e raramente infectam secundariamente. Não há casos descritos de hepatite C, de infeção pelo vírus da SIDA ou de outra doença infeciosa grave por elas provocadas. Mesmo a hepatite B, que, hipoteticamente, poderia transmitir-se, se uma das crianças envolvidas tivesse a doença e, simultaneamente, a ferida fosse profunda e sangrante, dificilmente se disseminaria deste modo, sobretudo, em crianças vacinadas, como são a maioria das crianças portuguesas.

Como tratar uma mordedura:

Se a pele não sangra, há que lavar a ferida com água e sabão, aplicar uma compressa fria, acalmar e confortar a criança mordida.
Se a ferida tiver sangue, deve-se deixar sangrar ligeiramente, sem espremer, lavar com água e sabão e desinfectar (água oxigenada é uma boa opção). Se, nos próximos dias, a zona começar a ficar vermelha ou inchada, será melhor procurar ajuda médica.
É boa norma confirmar se ambas as crianças (mordedora e mordida) têm as vacinas da hepatite B (3 doses) e do tétano em dia. Se alguma estiver em falta, deve consultar-se rapidamente o médico assistente ou o centro de vacinação.
Se a criança mordida precisa de atenção, a mordedora não pode ser descurada: devemos afastá-la do cenário do acidente e, calma e firmemente, fazê-la perceber que “não deve morder”, “morder dói”, “morder magoa o amigo”. Esta consciencialização para o sucedido deve ser feita na hora e não protelada para mais tarde, em casa, uma vez que crianças tão pequenas, não associam atos afastados no tempo. Situações que possam confundir a criança, tais como “morder de volta” ou incentivar a morder-se a si própria “para saber como é” são fortemente desaconselhadas. Como há de ela aprender que não deve morder, se o próprio adulto está a dar o exemplo?
Se o acidente acontece no infantário, os pais de ambas as crianças devem ser avisados. Não há nada mais desagradável do que descobrir uma mordidela escondida algures, ou saber por terceiros que o seu filho é um mordedor!

Morder por hábito: assim como aparece, também vai…

Conhecer bem as crianças, o seu caráter, os seus comportamentos e antecipar atitudes é meio caminho para evitar situações desagradáveis. Por vezes, é preciso tempo para mudar comportamentos que se tornaram hábitos, mas é bom saber que, à medida que a criança cresce, compreende e adquire estratégias de autocontrole, o hábito de morder é geralmente ultrapassado e desaparece tão misteriosamente como surgiu.

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