Há bichos na praia – cuidado com as alforrecas!

Calor, sol, mar e praia! Primeiro pé na areia, e os miúdos já começaram a correr em direção ao mar – “Vamos só molhar os pés”!… E nós sabemos que só voltarão à toalha no final do dia. Entre mergulhos, castelos na areia e jogos de futebol, ouve-se um berro, logo seguido de choro de uma criança… corremos e, de imediato, encontramos o culpado: uma alforreca no meio da areia. E agora? O que fazer?

Comecemos pelo princípio

Existem muitos tipos de alforrecas, ou medusas, em todo o mundo. Convém saber que as mais perigosas se encontram na zona dos oceanos Índico e Pacífico e no mar da Austrália. Na costa portuguesa, existem várias espécies, todas com nomes pomposos e difíceis de pronunciar. Algumas provêm do Mar Mediterrâneo e chegam às praias da costa continental e dos Açores e Madeira, sobretudo na primavera e no verão, transportadas pelas correntes de levante. Outras frequentam portos e marinas, sobretudo nos estuários do Tejo e do Sado. A título de curiosidade, a chamada “Caravela Portuguesa” (não sendo tecnicamente uma medusa) é um organismo gelatinoso bem traiçoeiro que pode ocasionar doença grave. Embora o seu nome aponte para Portugal, pela semelhança com o casco das caravelas dos Descobrimentos, é rara na costa continental portuguesa, mas bastante comum na Madeira e, principalmente, nos Açores.
O que importa realmente saber é que todos estes animais marinhos gelatinosos possuem tentáculos onde se encontram pequenas cápsulas com um liquido tóxico. É este o líquido que faz chorar quem é vítima desses animais.

E por que razão a criança chora tanto?

O líquido causa dor muito intensa, com ardor e sensação de picada. Após o contacto com a alforreca, a pele começa a ficar vermelha e com pápulas ou pequenas vesiculas. Habitualmente, tudo isto desaparece em algumas horas, mas até desaparecer temos de fazer alguma coisa.

O que fazer, ali, no meio da praia?

Primeiro, há que lavar a pele com água, mas tem de ser água salgada (do mar, por exemplo!). A água doce, de garrafa ou da torneira, destrói as cápsulas que contêm o tóxico, libertando mais líquido e agravando a dor. Não coloque urina (medida popular), álcool ou amoníaco, e não tape a zona afetada. É importante resistir ao instinto de esfregar com a toalha ou com areia – isso fará com que as cápsulas que ficaram coladas à pele libertem mais líquido tóxico.

E como retirar aquele pedaço de alforreca que ficou colado à pele?

Sem nunca tocar no bicho. Com um cartão de plástico, do tipo do cartão bancário ou da carta de condução, por exemplo. Nas alforrecas mais frequentes em Portugal, a aplicação de uma mistura, em partes iguais, de bicarbonato de sódio e de água do mar pode ajudar a minimizar a destruição das cápsulas no momento da remoção do tentáculo. Alguns restaurantes têm bicarbonato de sódio. Vai-se lá perguntar, se for necessário.
A lavagem com vinagre pode estar indicada após o contacto com alguns tipos de alforrecas, mas com muitas outras pode agravar os sintomas. Como não é fácil distingui-las, é preferível não arriscar.

Como diminuir a dor?

Para diminuir a dor, pode-se aplicar gelo (protegido com bolsa plástica e um pano) durante 15 minutos. Nunca aplicar gelo diretamente, exceto se for gelo de água do mar. Deve-se também oferecer paracetamol e colocar creme com calamina. Nas lesões mais graves, pode ser necessário aplicar uma pomada com corticóide e administrar anti-histamínico oral.

Pode ser grave?

Raramente, podem surgir náuseas, vómitos, diarreia, dor abdominal, formigueiros, cãimbras musculares, dores de cabeça. Em casos ainda mais raros, pode ocorrer uma reação alérgica intensa e/ou perda de consciência (com risco de afogamento se acontecer no mar). A gravidade dos sintomas depende do tipo de alforreca, da idade da criança, dos seus antecedentes de saúde e da área total de pele afetada.
Se a alforreca contactar com os olhos ou com a boca, se a criança tiver dificuldade em respirar e/ou em engolir, se sentir dor no peito, ou se os sintomas não melhorarem, ou se agravarem novamente, terá de ser observada de imediato por um médico.

Para evitar acidentes destes, há cuidados a ter:

Não tocar nas alforrecas, mesmo se estiverem mortas ou fragmentadas, porque o líquido tóxico continua ativo.
Não passear ou brincar na zona de rebentamento das ondas se existirem alforrecas na areia – o mais provável é haver outras a flutuar nas ondas. Neste caso, mais vale prevenir e deixar o banho para outra altura.
Prestar atenção à bandeira de praia que indica “vida marinha perigosa” (incluindo alforrecas) – a bandeira cor violeta. Não se encontra em Portugal, mas no estrangeiro existe.
Usar o fato de mergulho, olhar para o mar antes de mergulhar e expirar na subida para afastar as alforrecas que possam estar à tona, evitando que toquem na face à saída da água.
Avisar o Nadador-Salvador mais próximo, se virmos uma alforreca na praia.
E para saber mais sobre alforrecas portuguesas, pode-se consultar o documento do Instituto Português do Mar e da Atmosfera em: 
http://www.ipma.pt/export/sites/ipma/bin/docs/relatorios/pescas.mar/Flyer_GelAvista_FINAL.pdf

Boa praia e bons banhos!

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