O que é o

Cancro do estômago

Apesar de a incidência do cancro do estômago estar a diminuir em todo o mundo desenvolvido, em Portugal (particularmente na região Norte), continua a ser um dos cancros mais frequentes e mais agressivos, com a maior taxa de incidência de toda a União Europeia. É uma doença mais frequente nos homens e surge habitualmente a partir dos 60 anos.
A maioria dos cancros do estômago surgem na camada mais interna do estômago, denominada mucosa. Assim, constituem adenocarcinomas, que podem ser de diversos tipos histológicos (celulares). Habitualmente, resultam lesões pré-malignas, ao longo de vários anos.

Fatores de risco

Os principais fatores de risco conhecidos são ambientais e incluem a infeção pela bactéria Helicobacter pylorii (embora a larga maioria das pessoas infetadas nunca venha a desenvolver cancro), a alimentação com elevado teor de sal e produtos nitrogenados (por exemplo, carne conservada) e o tabaco. Por outro lado, uma alimentação saudável, rica em frutas e vegetais, e uma atividade física regular parecem ser fatores protetores. A história familiar de cancro do estômago e a presença de mutações genéticas também podem predispor para o desenvolvimento de cancro do estômago e implicam uma vigilância mais apertada.

A infeção por Helicobacter pylorii afeta cerca de 50% da população mundial e pode levar ao desenvolvimento de uma infeção crónica (gastrite crónica), com o desenvolvimento de úlceras ou lesões pré-cancerosas. Cerca de 1% das pessoas infetadas por esta bactéria pode vir a desenvolver cancro do estômago, se não tratadas atempadamente (com uma combinação de antibióticos). A transmissão habitualmente ocorre na infância e está associada a más condições socioeconómicas. É o principal fator de risco para cancro de estômago, mas é também o mais facilmente tratável.

Sintomas e meios de diagnóstico

O prognóstico do cancro do estômago é habitualmente reservado, dado que a maioria das situações são detetadas num estadio avançado. Numa fase inicial, não existem sintomas e apenas um exame endoscópico poderá efetuar esse diagnóstico. Os sintomas mais frequentes do cancro do estômago são a dor abdominal, o enfartamento precoce (sentir-se “cheio” com pouca quantidade de comida), a sensação de dificuldade em fazer a digestão, as náuseas ou vómitos, a falta de apetite, a perda de peso e a hemorragia digestiva (pela boca ou pelo ânus). A anemia é frequente nos casos de hemorragia e pode levar a astenia (falta de força) e cansaço.

O exame fundamental para o diagnóstico do cancro do estômago é a vídeo-endoscopia digestiva alta. Neste exame, é colocada uma câmara de vídeo que viaja da boca até ao estômago e permite ver o revestimento interno do estômago. Caso existam lesões suspeitas, será efetuada uma biópsia (remoção de um pouco de tecido), que será enviado para avaliação histológica (avaliação do tecido ao microscópio) por um especialista. Nesta altura, caso seja efetuado o diagnóstico de cancro do estômago, o exame permitirá também a caraterização do tipo celular do cancro.

Como tratar

Caso tenha um diagnóstico de cancro do estômago, habitualmente o passo seguinte é consultar um cirurgião.
Nesta altura será importante estadiar (saber o estado de evolução do tumor), para o que poderão ser necessários vários exames (TAC, eco endoscopia, PET, etc.). A realização de uma laparoscopia diagnóstica (avaliação da cavidade abdominal com uma câmara de vídeo) está habitualmente recomendada (exceto nos casos muito precoces) e poderá ser feita antes ou durante a cirurgia de tratamento.

A maioria dos doentes terá indicação para cirurgia. Nos estadios mais precoces a cirurgia poderá ser por via endoscópica (através da boca) e envolver apenas a remoção das camadas mais superficiais do estômago. Nos casos mais avançados, a cirurgia poderá ser realizada para aliviar os sintomas de hemorragia ou obstrução. Nos restantes casos, a cirurgia será efetuada com intenção curativa, implicando a remoção de todo ou parte do estômago e dos gânglios linfáticos regionais (em volta do estômago). Esta cirurgia poderá ser realizada por laparoscopia (pequenas incisões na pele) ou por laparotomia (“de barriga aberta”). A remoção dos gânglios linfáticos é fundamental para permitir uma melhor probabilidade de cura e para permitir um correto estadiamento e planeamento da necessidade de outros tratamentos adjuvantes.

Em determinados casos de cancro do estômago será necessário efetuar quimioterapia para complementar o tratamento cirúrgico. Esta quimioterapia poderá estar indicada antes da cirurgia, depois da cirurgia ou em ambos os momentos. Alguns casos poderão também ter indicação para radioterapia.

Depois da cirurgia

A decisão sobre a extensão da resseção do estômago (total ou parcial) depende de diversos fatores, sendo os mais importantes a localização do tumor, o tamanho e o tipo histológico. Em ambos os casos é restabelecida a continuidade do tubo digestivo, efetuando uma ligação entre o esófago (ou o remanescente do estômago) e o intestino delgado. As principais complicações da cirurgia são as hemorragias, as infeções e as tromboses. A médio prazo, a maioria dos doentes sofre uma perda de peso significativa e pode sofrer de défices nutricionais que terão de ser devidamente suplementados. As alterações gastrointestinais (diarreia e intolerância a alguns alimentos) também são frequentes e poderão precisar da orientação de um nutricionista para que sejam controladas. Regra geral, a qualidade da cirurgia (adequação à situação clínica, extensão da remoção ganglionar, qualidade das anastomoses) e consequentemente o prognóstico, estão associados à experiência do cirurgião.

Assim, um diagnóstico precoce e um tratamento cirúrgico adequado são os fatores modificáveis mais importantes para aumentar a sobrevivência ao cancro do estômago.

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